terça-feira, 10 de agosto de 2010

Ziraldo solta o verbo,

diz por que se recusou a participar da “Flipinha”
Dossiê Geral: o blog das confissões, 07/08/2010

O cartunista, escritor, artista gráfico e polivalente Ziraldo vai ser personagem de uma entrevista no DOSSIÊ GLOBONEWS – em breve. Mas, enquanto a entrevista não vai ao ar, ele esquenta os tamborins: diz por que se recusou a participar da “Flipinha”, a versão infantil da Festa Literária de Paraty.

“Já fui convidado uma vez. Com muita honra, fui. E achei ótimo ter ido à Flip. Mas, este ano, o que aconteceu foi o seguinte: ma mandaram um convite para que eu fosse para a Flipinha. Primeiro, o seguinte: eu odeio diminutivo ! Escrevo para criança. “Flipinha” já é uma coisa que reduz o que escritor para criança faz. Odeio oficina. Odeio esse negócio de fazer oficina com criança. Não sou animador. Quero ajudar a transformar o Brasil num país de leitores. Quero participar desta festa: convencer as pessoas de que ler é mais importante do que estudar. Mas para essa coisa de ficar sentado com criança fazendo figurinha não tenho paciência nenhuma. O convite que me fizeram foi: venha para a “Flipinha”. Eu me lembrei da história de Aracy de Almeida. Era namorada de Fernando Lobo. Um dia, numa boate, ela passou diante de uma mesa em que estava Fernando Lobo – que a havia abandonado. Fernando Lobo disse: “Olá…”. Aracy parou e disse: “Não sou mulher de olá…”.

“Falo para o pessoal da Flip: “Não sou mulher de Flipinha!” (imita voz de Aracy de Almeida). Convidem J.K. Rowling (autora de Harry Potter), que escreve para criança, para ver se ela vem da Inglaterra para a “Flipinha”! Vocês me respeitem. Convidem para eu ir para a Flip. Mas para “Flipinha” não vou. Disseram: “Mas você vai para a Jornada de Passo Fundo”. Eu disse: “Não. Nunca me convidaram para “Jornadinha”. Sempre me respeitaram: me convidam para a Jornada. Chego lá, falo para criança. Não faço oficina. Não convidam ninguém para “jornadinha”. Não existe. Isso é diminuir o escritor. Pelo seguinte: os escritores que escrevem para criança no Brasil são tão importantes – ou mais – do que a maioria dos escritores que escrevem para adulto. Temos Ana Maria Machado, Rute Rocha, Bartolomeu Campos de Queirós. Poderia citar aqui uma infinidade de escritores. O Brasil tem um elenco de escritores para criança mais importante do mundo. Antônio Skármeta, o autor de O Carteiro e o Poeta, veio conversar comigo aqui no Brasil: não conhecia um autor infantil chileno ! É inacreditável. Aqui, no Brasil, não. A gente convive e se respeita. Os organizadores vão chamar você – um escritor infantil que vende o que vendo de livros e tem a repercussão que eu tenho – para participar da “Flipinha”? Que “Flipinha” ? Não vou para “Flipinha”. É isso o que aconteceu”.

Um comentário:

  1. Ziraldo tem cacife pra recusar. Já eu, pobre escritor de quinta (que tenho um caminho longo para traçar) ia na boa, me esparramava de felicidade no meio da criançada, cantava, macaqueava, fazia figurinha e saía de lá mais iluminado. Mas... ainda não sou nada.

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