segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Bartô conquista Prêmio Iberoamericano SM

Bartolomeu Campos de Queirós acabou de ganhar, por unanimidade do júri, o IV Premio Iberoamericano SM de Literatura Infantil e Juvenil, que lhe será entregue em dezembro próximo, durante a Feira do Livro de Guadalajara no México.

Reproduzo abaixo, com algumas alterações, o pequeno texto com o qual — como membro do Júri — o apresentei à imprensa (mexicana), durante a proclamação dos resultados. Acho extremamente importante ampla divulgação do prêmio; se os colegas acharem que o texto abaixo pode ser útil na divulgação, façam o uso que quiserem dele.

Marisa Lajolo . 26.10.2008


2007 © Peter O'Sagae



Bartolomeu Campos de Queirós - o Bartô, como tão carinhosamente é chamado pelos amigos- nasceu há sessenta e quatro anos, numa cidadezinha de Minas Gerais: cidadezinha qualquer, sem mar e sem praias, porém com um mar de montanhas a seu redor. Hoje, Bartô vive em Belo Horizonte.

Sua estréia na literatura deu-se em 1974, com a obra O peixe e o pássaro. Já este seu primeiro livro ganhou de imediato um dos mais importantes prêmios brasileiros para livros infantis: o Selo de Ouro outorgado pela Fundação Nacional Livro Infantil e Juvenil, a seção brasileira do IBBY. Na história, já se fazem presentes os espaços largos, a beleza da vida, o miúdo e do cotidiano de que continua, até hoje, a ocupar-se sua literatura.

Em seus mais de 30 anos de dedicação à literatura, Bartô publicou quase meia centena de livros: alguns estão traduzidos para outras línguas e muitos ganharam prêmios importantes, dentro e fora do Brasil. Alguns títulos dos livros de Bartolomeu já assinalam o caráter exigente, profundamente plástico e sensorial de toda sua obra: Entretantos, Antes e depois, Até passarinho passa, Para ler em silencio, A rosa dos ventos . Outros títulos sublinham a intensa musicalidade de sua literatura. Fruto de exigente trabalho com a linguagem, muitas vezes a obra de Bartô se aproxima dos ritmos da poesia: rimas, trocadilhos e repetições envolvem os leitores: De não em não, O guarda chuva do guarda, Formiga amiga, Pé de sapo e sapato de pato.

Há mais ou menos dez anos, quando a literatura infantil começou a fazer-se presente na universidade brasileira, a obra de Bartolomeu inspirou não poucos mestrados e doutorados . Investigando na produção do escritor mineiro temas como o lúdico, o misterioso, o maravilhoso, ou o sentido do sagrado , os trabalhos universitários testemunham a altíssima qualidade da literatura de Bartô, qualidade que este IV Premio Interamericano SM acaba de ratificar .

Em uma tradição tão rica como a tradição em que se inscreve a literatura infantil brasileira — temos duas escritoras premiadas com o Hans Christian Andersen — o prêmio agora atribuído a Bartolomeu tem uma imensa importância : sublinha, por um lado, a identidade latino-americana da cultura brasileira: como um dos poucos países de nuestra América nos quais o espanhol não é a língua oficial, algumas vezes a ultima flor do Lácio que nos exprime nos separa de nossos irmãos de continente. Por outro lado, o reconhecimento de nossa ibero-americanidade — proclamada e firmada pelo prestigioso prêmio que ora se confere ao autor de Sete Luas e de Ciganos — é uma importante porta para que todos os autores ibero-americanos, e com eles os leitores, viajem do português para o espanhol e vice-versa e assim a literatura contribua cada vez mais para a percepção da beleza das identidades mestiças e em trânsito, como são todas as identidades ibero-americanas.

Parabéns, Bartô !
*

Um comentário:

  1. Muito bom saber. E o texto da Marisa Lajolo, como sempre, é uma aula (no bom sentido do termo).
    Sabe que eu não consegui comprar ainda o "Sei por ouvir dizer"? Como moro no interior, compro sempre pela internet. Ainda não o encontrei disponível nas grandes livrarias.
    Obrigada de novo, Peter.

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