por Vivian Rangel - colaboração: Mariana Filgueiras
Jornal do Brasil - 15/09/2007
O acadêmico Sergio Paulo Rouanet vê a crise da leitura como parte de uma crise maior, a da cultura, que desvaloriza cada vez mais o trabalho intelectual. Durante o debate na Bienal, Rouanet pretende questionar se vivemos um sintoma que representa a redução de leitores costumazes ou se o drama é apenas uma reação de repulsa aos novos suportes. Uma preocupação semelhante, segundo ele, à provocada pelo surgimento da imprensa em meados do século 15:
— Quando começaram a funcionar as primeiras rotativas, não faltou quem alertasse para o fim do fetiche do pergaminho coberto pelo cheiro da tinta utilizada pelo monge — compara Rouanet. Na verdade, a invenção de Gutemberg fez com que milhares de pessoas tivessem acesso à leitura. Hoje, na internet, é possível ler uma livro inteiro armazenado nas bibliotecas dos congressos. A pergunta que deve ser feita é se, com os novos suportes, os livros longevos, os clássicos que sobrevivem aos homens, continuarão a ultrapassar gerações — questiona.
Responsável pela organização da coleção As obras-primas que poucos leram, que reúne artigos publicados na revista Manchete e, no primeiro volume, desbrava títulos como Grande sertão: veredas e Em busca do tempo perdido, a escritora Heloisa Seixas acredita que não é preciso sentir-se culpado ao deixar de ler livros considerados fundamentais.
— A série do Harry Potter prova que, quando há prazer, o tamanho não importa. Quando a mágica da leitura surge, não é possível deixar de servir a esse vício maravilhoso — opina.
Bons livros, defende o jornalista Sergio Augusto, devem ser devorados no mais breve tempo possível. Mas no ritmo certo, na degustação merecida. Se o tijolaço não agradar na segunda tentativa, pode e deve permanecer não-lido:
— Já abandonei muitos livros no meio, e, às vezes, no início do caminho — admite. Justifico com um dos meus mantras prediletos: "A vida é curta".
O bibliófilo Hariberto Jordão Filho, que possui uma coleção com mais de 3 mil livros raros, confessa ter deixado a leitura de Ulisses de lado, um livro para ele desagradável. Ressalta, no entanto, que é importante levar em conta o momento certo de mergulhar num clássico:
— Os Lusíadas, de Camões, representou o meu terror no colégio, porque os professores obrigavam-nos a fazer análise literária dos versos — relembra. Já adulto, em Lisboa, vi na vitrine um grande livro aberto e li: "Depois de procelosa tempestade, noturna sombra e sibilante vento, traz a manhã serena, claridade, esperança de porto e salvamento". Foi terror e depois amor à primeira vista.
Como acontece na relação com qualquer forma de arte, o momento particular do leitor pode determinar se é possível construir uma identificação, um elo capaz de ultrapassar centenas de páginas. Atração que fez Fernanda Young mergulhar em Jean Santeuil, enorme romance inacabado de Marcel Proust, predecessor de Em busca do tempo perdido. Mas, se a identificação não acontece — recomenda o escritor Deonísio da Silva — é preciso encarar a "relação bunda-cadeira-hora" e desafiar os clássicos:
— É importante lê-los, não importa o modo, se imposto ou escolhido — afirma Deonísio. Mais vale ler alguns versos de Dante, como "o amor que move o Sol e as outras estrelas" do que uma biblioteca completa de auto-ajuda.
Fotos adicionais: (1) Sergio Paulo Rouanet » MindMapping Table (2) Heloisa Seixas » Releituras (3) Sérgio Augusto, foto de Maria Lucia Rangel » Digestivo Cultural (4) Deonísio da Silva » Editora Peirópolis.
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Jornal do Brasil - 15/09/2007
O acadêmico Sergio Paulo Rouanet vê a crise da leitura como parte de uma crise maior, a da cultura, que desvaloriza cada vez mais o trabalho intelectual. Durante o debate na Bienal, Rouanet pretende questionar se vivemos um sintoma que representa a redução de leitores costumazes ou se o drama é apenas uma reação de repulsa aos novos suportes. Uma preocupação semelhante, segundo ele, à provocada pelo surgimento da imprensa em meados do século 15:
— Quando começaram a funcionar as primeiras rotativas, não faltou quem alertasse para o fim do fetiche do pergaminho coberto pelo cheiro da tinta utilizada pelo monge — compara Rouanet. Na verdade, a invenção de Gutemberg fez com que milhares de pessoas tivessem acesso à leitura. Hoje, na internet, é possível ler uma livro inteiro armazenado nas bibliotecas dos congressos. A pergunta que deve ser feita é se, com os novos suportes, os livros longevos, os clássicos que sobrevivem aos homens, continuarão a ultrapassar gerações — questiona.
Responsável pela organização da coleção As obras-primas que poucos leram, que reúne artigos publicados na revista Manchete e, no primeiro volume, desbrava títulos como Grande sertão: veredas e Em busca do tempo perdido, a escritora Heloisa Seixas acredita que não é preciso sentir-se culpado ao deixar de ler livros considerados fundamentais.
— A série do Harry Potter prova que, quando há prazer, o tamanho não importa. Quando a mágica da leitura surge, não é possível deixar de servir a esse vício maravilhoso — opina.
Bons livros, defende o jornalista Sergio Augusto, devem ser devorados no mais breve tempo possível. Mas no ritmo certo, na degustação merecida. Se o tijolaço não agradar na segunda tentativa, pode e deve permanecer não-lido:
— Já abandonei muitos livros no meio, e, às vezes, no início do caminho — admite. Justifico com um dos meus mantras prediletos: "A vida é curta".
O bibliófilo Hariberto Jordão Filho, que possui uma coleção com mais de 3 mil livros raros, confessa ter deixado a leitura de Ulisses de lado, um livro para ele desagradável. Ressalta, no entanto, que é importante levar em conta o momento certo de mergulhar num clássico:
— Os Lusíadas, de Camões, representou o meu terror no colégio, porque os professores obrigavam-nos a fazer análise literária dos versos — relembra. Já adulto, em Lisboa, vi na vitrine um grande livro aberto e li: "Depois de procelosa tempestade, noturna sombra e sibilante vento, traz a manhã serena, claridade, esperança de porto e salvamento". Foi terror e depois amor à primeira vista.
Como acontece na relação com qualquer forma de arte, o momento particular do leitor pode determinar se é possível construir uma identificação, um elo capaz de ultrapassar centenas de páginas. Atração que fez Fernanda Young mergulhar em Jean Santeuil, enorme romance inacabado de Marcel Proust, predecessor de Em busca do tempo perdido. Mas, se a identificação não acontece — recomenda o escritor Deonísio da Silva — é preciso encarar a "relação bunda-cadeira-hora" e desafiar os clássicos:
— É importante lê-los, não importa o modo, se imposto ou escolhido — afirma Deonísio. Mais vale ler alguns versos de Dante, como "o amor que move o Sol e as outras estrelas" do que uma biblioteca completa de auto-ajuda.
Fotos adicionais: (1) Sergio Paulo Rouanet » MindMapping Table (2) Heloisa Seixas » Releituras (3) Sérgio Augusto, foto de Maria Lucia Rangel » Digestivo Cultural (4) Deonísio da Silva » Editora Peirópolis.
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Sem d�vida alguma a leitura, qualquer que seja ela nos permite produzir uma nova subjetividade a partir da intera�o que se estabelece entre o homem e o universo lingu�stico que est� em seu entorno, ampliando, desse modo, nosso potencial cognitivo. Parab�ns pelo post.
ResponderExcluirE agora, especial: por onde andas, Mariana depois que o General Lee fechou? rsrsrs